quinta-feira, abril 27, 2006

Nunca será

Eu até achei que conseguiria.
Achei que havia força,
Achei que havia determinação,
Achei que havia vontade.
Não há!
Achei que havia desejos,
Achei que havia sentimentos,
Achei que havia um plano.
Não possui!
Achei que depois de um tempo,
Achei que depois de um beijo,
Achei que depois de tudo...
Não será!
Diante da incerteza que rege,
Existe uma certeza concreta.
E é ela que diz:
Que não há, nunca foi e nunca será!
***

"Mesmo quando ele consegue o que ele quis,
Quando tem já não quer!
Acha alguma coisa nova na TV,
O que não pode ter.
E deixa de gostar,
Larga mão do que ele já tem.
Passa então a amar,
Tudo aquilo que não ganhou!"(Rodrigo Amarante)

domingo, abril 23, 2006

Utopicamente viável


“Eu queria poder morar no interior do meu interior”. Há bastante tempo venho caçando frases de efeito. Muitas delas são clichês e dizem coisas muito óbvias e ao mesmo tempo podem ser tão obscuras e subjetivas...


Estava na minha rotina diária-trabalho e música-quando ouvi essa frase. Morar no interior do meu interior! Soou tão subjetivo e ao mesmo tempo tão objetivo.
Esse ato, acredito eu, é algo de profundo conhecimento, uma tarefa difícil, visto a infinidade e a complexidade que permeia o ser humano. Somos um mistério pra nós mesmos e “invadir” esse espaço tão interno e íntimo é no mínimo utópico, irreal e improvável.
Mesmo assim, resolvi acreditar na frase e viajar nos seus inúmeros significados.
Me pareceu uma fuga. Algo que quando não anda bem e tornando-se, dessa forma, necessário encontrar um espaço bem escondido, seguro e quentinho, para se sentir protegido. Como uma criança abandonada, um doente terminal, uma mãe de família que está desempregada, e outras situações de desespero, que podem fazer com que tenhamos vontade de nos esconder, sumir e se refugiar.
A minha identificação com essa música não foi a toa. Ultimamente não tenho me sentido bem. Às vezes, tristezas repentinas e desânimos estão fazendo parte da minha rotina. Sinto saudades, não sei de que ou de quem, sinto-me sozinha, desamparada, despreparada e com medo. E de certa forma isso tem se refletido no meu cotidiano. Tenho dormido muito pouco, sinto um aperto no meu coração, uma sensação de pânico constante, parece que o mundo pode acabar pra mim a qualquer momento. É como se carregasse um peso que não sei de onde vem, e nem o que traz. É invisível, mas não é indolor. “Tristes velhos fatos!”.
Os motivos das minhas preocupações são sempre os mesmos, os medos são iguais, mas agora com uma novidade: não os quero mais! To percebendo algumas mudanças na minha vida. Coisas muito boas que estão acontecendo e não há mais espaço para esses pensamentos imbecis. Agora não deve mais existir o temor de outrora, e sim a esperança do belo. Um futuro que brilha a partir da janela que se abre. Um fulgor que irradia chegando a ofuscar. Causando uma cegueira momentânea, daquela que serve apenas para tirar o poder de enxergar, e assim adentrar sem temor no desconhecido aos olhos. Errarei? Sim! Sucumbirei?Também! Mas só se for às tentações de arriscar, mudar e perder para aprender cada vez mais. Mas, agora a minha vontade é única, os desejos são plenos, os objetivos estão traçados e o aguardar é constante. Aguardo além do acaso, e quando vejo já chegou e se não, irá chegar. A esperança, mãe da utopia em seu verdadeiro sentido, aquela que motiva e leva à frente, essa sim, vai reger a minha nova vida. A grande força da utopia!

Luz do luar

Sem tempo pra amar.
Beira do mar, brilho das estrelas e a luz do luar;
Ah! A luz do luar...
Sozinha, lembro-me de ontem.
Daquilo que foi mesmo sem ser.
A saudade do que não existiu.
Só queria um pouco mais.
Não adianta.
Já tentei uma, duas e três vezes.
Gastei todas as minhas fichas, os meus créditos...
Falo-te com tantos rodeios.
Procuro o seu espaço.
Me encaixo, adapto-me.
Mas logo saio.
Em ti não há uma vaga.
Dor!
Machuca, sangra e fere.
As vozes, as músicas, os gestos e até o zodíaco.
Os espaços, as pessoas e os passos.
E o bendito luar.
Ah! A luz do luar...
Se o seu coração te deixasse amar...
Mas sofre uma solidão forçada.
Abre uma cova destampada.
Range os dentes no calor.
E quando o frio chega.
Tranca o quarto;
Lê o livro de meses;
E olha a luz do luar.
Ah! A luz do luar...

sexta-feira, abril 21, 2006

Está no olhar, basta enxergar...

Olha, quem é aquela menina?
Não era a que andava aí pelos cantos.
Sobrancelha arqueada, olhos entreabertos e cabisbaixa?
Quanta vida!
Ela não teme o futuro;
Constrói!
Os olhos são vivos e abertos;
Luta!
Caminhou nas pedras, tropeçou e machucou;
Rompeu!
Aprendeu com quem devia e, muitas vezes até as coisas que não devia.
Tem um furacão na mente, entre as pernas e no olhar.
Fulminante e fatal.
Falta-lhe muito, mas agora sabe que pode.
Dizem que o coração dela andou bloqueado.
Aprendeu a se comportar diante de todas as situações.
Desistiu do amor romântico.
Sem mitos, consesos e sensos.
A beleza no branco do leite e no cinza de um dia chuvoso.
Valores irreparáveis.
Beleza nas sombras, nos erros e nas derrotas.
Infeliz daquele que nunca perdeu.
Ressurgir, renascer e renovar.
Agora é uma mulher.
Pagu, Channel, Benário, Lee...
Canta pra ninguém chegar.
Escreve pra ninguém ler.
Dança pra ninguém aplaudir.
Faz pra si.
E ainda assim.
Admiram, amam e a contemplam.
Olhem aquela menina!



Pra vocês....

Existe um ditado que diz: “Há males que vêm para bem”. Não sou muito fã desse tipo de consenso, porém tenho que reconhecer que no último mês essa frase sintetiza um pouco do que estou sentindo. Logo cedo, tive que começar a me virar e isso não é novidade para quem me conhece. Sempre fui muito ativa. Nunca esperei nada sentada, parada. Sempre corri atrás de tudo que eu quis, seja na escola e hoje, na faculdade. Não tive outra escolha, mas não reclamo por isso, foi muito melhor assim. Encontrei no meu caminho pessoas maravilhosas que me apoiaram, e continuam ao meu lado, nos momentos mais difíceis da minha vida. Definitivamente, não posso reclamar da sorte! Quando tudo parece estar perdido, aparece lá no cantinho, uma luz. A chamada, luz no fim do túnel! Essa luz, eu encontro na minha família e em especial em meus amigos. Esses sim, têm sido meus alicerces nos últimos tempos. Distante fisicamente dos meus pais biológicos, embora tenha o mesmo carinho dos meus padrinhos, muitas vezes me sinto sozinha, incomodando. Como se fosse um favor gostar de mim e que todas as pessoas que estão ao meu redor, só estivessem ao meu lado por pena. O motivo pela compaixão, ao certo, eu não sei, porém no auge das minhas crises esse é o principal ponto que eu me lembro. Quando estou assim tenho um ritual único: Pego um livro, coloco a rede na varanda, deito, leio duas páginas e penso. Penso muito e lembro-me de tudo o que já vivi, que passei e que conheci. Isso não diminui a dor ou a tristeza, mas alivia o coração. Depois passa, assim como chegam, essas crises partem. E assim vejo como tenho pessoas que realmente gostam de mim. Esses dias fui acometida de um susto no meu corpo. Sempre tive uma saúde de ferro, porém a minha rotina agitada e dupla, stress e excesso de trabalho acabaram derrubando o meu corpo. Dor no peito, falta de ar, queda de pressão... Vixe! E pra completar uma veia bloqueada no coração. Vai ver que é por isso que estou sozinha. Nada gravíssimo, mas que serviu para assustar a mim, meus amigos e minha família. Mas, como disse no início do texto, “Há males...” Pela dor, pude perceber o quanto tenho amigos e o quanto eles são importantes, especiais e fundamentais na minha vida. Sem pestanejar, todos eles estiveram presentes em um dos momentos mais complicados da minha vida. Me acompanhando, brigando com seguranças, enfermeiras, médicos, ligando, abraçando, chorando, tremendo, sofrendo... Em certos momentos chegava a ficar constrangida e pensava: Será que mereço tamanho carinho? Repensava em todas as coisas que já havia feito por cada um e não encontrava nada que justificasse o carinho que eu estava recebendo. Só então me dei conta, que eles estavam fazendo isso não porque eu já havia feito algo por eles há tempos atrás. O amor que eu estava recebendo era gratuito e em virtude de tudo que eu representava na vida deles, devido a tudo que mesmo sem saber tenha feito por cada um dos meus amigos. Pensava o que poderia fazer para agradecer um dia tudo que eu estava recebendo ali, de graça. Na atual conjuntura mundial, fica difícil imaginar que as coisas e principalmente as pessoas, se dêem assim, de forma gratuita. Eu tenho sorte! Tenho amigos. Talvez nunca tenha dado valor que essa palavra merece, mas agora sim. Sei o quanto é importante tê-los por perto. O quanto os valorizava, não chega nem perto do quanto os amo hoje. Encho o peito e afirmo que tenho amigos de verdade. E com eles fica mais fácil enfrentar tudo na vida. Posso ligar chorando, gritando, pra rir... Esse texto é um texto pra agradecer(mais uma vez) e acima de tudo reafirmar meu amor por vocês. MEUS GRANDES E ÚNICOS AMIGOS!

segunda-feira, abril 17, 2006

O Bonde do Dom

"Novo dia;
Sigo pensando em você.
Fico tão leve que não levo padecer.
Trabalho em samba e não posso reclamar;
Vivo cantando só para te tocar.
Todo diaVivo pensando em casar;
Juntar as rimas como um pobre popular;
Subir na vida com você em meu altar.
Sigo tocando só para te cantar
É o bonde do dom que me leva..."
(Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown)

Sem muitos comentários. A letra fala por si. Tenho pensando em não pensar mais nada. Queria entender o que não encontro explicação. Reflexo "pós show de Los Hermanos". Quero abrir a minha janela para a Primavera entrar. Os raios de sol para iluminar, flores para florescer e o verde para não deixar que a esperança acabe.
"A hora é de asssombro..."(Fernando Pessoa)

terça-feira, abril 11, 2006

Apenas mais uma de amor...

Era uma sexta-feira comum. Faculdade, trabalho e nada mais. Não tinha programado coisa nenhuma com os meus amigos para a noite, mas definitivamente não queria ir pra casa. Estava meio estranha e nesses dias de melancolia prefiro até ficar sozinha, em algum lugar que não seja o meu quarto-durmo assim que entro nele. Queria refletir, pensar, conversar comigo... Resolvi que iria ao teatro ao lado do meu trabalho. Iria sozinha mesmo, sempre fiz isso e realmente estava precisando. O dia não estava legal e não conseguia produzir direito. Havia uma matéria pra entregar no final do dia, um telefone que não parava de tocar e a caixa de email que era alimentada a cada minuto... Grrrrr! Estava começando a ficar irritada. Todas essas situações reunidas, agravadas ainda ao período que antecede a ovulação, no qual a mulher fica absolutamente sensível e/ou irritada, dramática e triste só pioravam a minha “fossa”.
Lá pelo meio da tarde, resolvi chamar um amigo para me fazer companhia à noite. Caso ele fosse, não iria ao teatro e ficaríamos em um barzinho próximo, para conversamos, debatermos, chorarmos, etc... Ele aceitou e assim ficou combinando: Sairia do estágio e encontraria com ele. Pronto! Programa da noite decidido, nenhum reggae duro, nem festa badalada. Um simples encontro entre amigos para conversar, beliscar algumas coisas e depois seguir para casa.
Estava me sentindo profundamente triste. Falta de algo que sabia exatamente o que era, mas preferia não acreditar que “aquilo” tinha tomado tamanha dimensão. Mesmo tendo certeza do quanto é efêmero esse tipo de sentimento e que o romantismo e a jura de eternidade só existem efetivamente em poesias, músicas e livros, estava presa a algo que passava muito distante de qualquer sonho de eternidade. No plano real, na vida vivida, as coisas são bem diferentes. E quando se fala em amor que não é recíproco...
Nós, seres humanos, somos absolutamente frágeis. Seja quem for. Pobre, rico, branco, negro, os que têm de tudo, ou os que não têm nada. Todos, sem exceção, assim como o mais perfeito dos sistemas tecnológicos ou a mais perfeita das máquinas, possuem uma brechinha que lhes permitem sofrer, chorar, desesperar-se e pensar em desistir. E comigo seria diferente? A mais mortal das mortais. A que chora, ri, canta, dança. Não, não seria... Dividida em momentos e em fases que se modificam em questão de horas, por que não sentiria a fraqueza peculiar de todos os frágeis seres humanos? Claro que sim! Alguns dizem que enchendo-se de tarefas não existirá tempo para assim lembrar de coisas externas. Mentira! A falha, a infeliz brechinha da máquina humana não tem o botão “Mega Plus Esquecimento de Tristeza, Coisas Desagradáveis e Afins”. Talvez, com esse botãozinho todos os nossos problemas estivessem resolvidos. Porém, até a mais perfeita das máquinas possuem a maldita brechinha e até o suposto eficiente botão, com certeza iria falhar. Voltando a realidade: sem o botão e com a brechinha escancarada, encarei o resto da tarde. Horário de trabalho concluído e sem conseguir cumprir metade das minhas tarefas, prosseguir para encontrar meus amigos. Não estaríamos mais sozinhos, pois outro amigo resolveu ir ao encontro. Os três, sozinhos, em um bar, o que seria discutido? Os dois sabiam de tudo que se passava no meu coração nos últimos tempos(seja de problemas biológicos ou sentimentais), então não sentiria nenhum receio em desabafar com meus companheiros. Algumas cervejas pra dentro (eu era a única que não bebia) e o papo seguia solto. Como de costume, falamos mal de algumas pessoas (normalmente as mesmas) e depois começamos a contar sobre as nossas carências. A solidão é parte da existência do ser humano. Nunca estamos inteiramente completos e muito menos satisfeitos com o que temos. A inconstância nos rege, agindo assim de forma a nunca compreender as nossas ações, reações, e principalmente os nossos desejos. Diante de todas essas dúvidas, que jamais serão esclarecidas, conversamos muito sobre as nossas aspirações no quesito amor. Tínhamos repertório suficiente pra estendermos aquele papo até o dia nascer, entretanto as nossas condições não permitiam. O assunto, ao menos naquele momento, não era agradável para nós. Os sonhos, os planos e os desejos que se espera quando se está apaixonado, no nosso caso, não era interessante, afinal era algo particularmente nosso. O “objeto” de toda nossa cobiça simplesmente ignorava todos os nossos “esforços” em conceder uma vida ao nosso lado, para eles éramos apenas nada. Então resolvemos que não tocaríamos mais naquele assunto, pelo menos não naquela noite. Era um dia de comemoração a nada. Como costumo dizer, um brinde a vida, e definitivamente não valeria a pena gastar nosso leque de abordagens com um assunto que nem de longe nos traria prazer. É engraçado, como sabemos que o amor, tal qual como é idealizado só existe nas músicas, poesias... No plano da realidade e da razão, a convivência, o comodismo e as descobertas minam qualquer sentimento de eternidade. Mesmo assim, insistimos em chorar, insistir e acreditar na constância desse sentimento tão obscuro e indefinível.