Deixa ser
"Pois é, não deu;
Deixa assim como está sereno.
Pois é, de Deus;
Tudo aquilo que não se pode ver.
E ao amanhã a gente não diz,
E ao coração que teima em bater;
Avisa que é de se entregar o viver..."
Uma pretensa escritora em eterna aprendizagem! "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento"
"Pois é, não deu;
Sentada à frente da tela, procuro encaixar as palavras certas para designar a incógnita que sinto. Seria fácil se esse sentimento pudesse ser denominado, porém ele é apenas um nada. Em cada movimento dos dedos uma nova possibilidade surge. É um não sentir que se sente. Um desespero consciente, porque não há sobre o que escrever, e muito menos explicar o total desconhecimento sobre o que quero dizer. Só existe um vazio. Dentro desse vazio sinto a sua presença... Há uma lacuna de saudade do que não existiu e dos sonhos que caducam à espera de realizações.
Tava na cara que não era pra ser. O que eu penso nem de longe você lembrava. Os meus desejos não coincidiam com seus planos. A sua cor era mais forte. Há menos maturidade nos seus atos, como se a mente não tivesse acompanhado o desempenho físico. Tudo que não queria é o que você mais desejava.
O que sou até sei. Um ajuntamento de carne, ossos, vísceras, veias e sangue que corre. Coração que pulsa. Entra e sai. Mas quem sou? Um mistério indecifrável. Como se percorresse uma estrada não sinalizada e escura. Curvas e saliências. Caminhado pro desconhecido, às vezes temerosa, outras com muita coragem. Enfrentando a chuva ou iluminada pelo sol. Contemplando o céu estrelado com nuvens formatadas ao desejo da mente. Ou então, em dias com imaginação infértil, sem existência de nuvens. Acreditando no invisível e no ausente, sobretudo no não palpável. Vivendo o avesso do que costumamos ver no mundo. Faca na espinha, couro descascado e pés rachados. Sorrindo a todos e com todos. Brilho que irradia e espanta. A cada aproximação uma possível distância e, quem sabe, talvez um perigo eminente. Cuidado! Escondida atrás de livros busco o que gostaria de ser e procuro encontrar. O que o Doutor diz? Nada gravíssimo, apenas uma alteração. Mas tem que cuidar... Toda a atenção de todos. Escondida no temor da tristeza, no canto das paredes, na brisa que sopra na varanda alta do terceiro andar, diz ao mundo que precisa de carinho. Não é uma fortaleza. Frágil e delicada a estrutura estremece. Balança mas não cai. Na minha porta há fila. Altamente dispensáveis. Não fechei, eu juro! Apenas ninguém abriu. Vem com vontade e com desejo. Eles nunca faltaram mesmo. Tenho até um pouco de vergonha do que ainda não fui e até do que já desejei. Escrevo por não cantar, falo para desabafar.Preciso estar no centro. Hiperatividade e pró-atividade por grandes, longas e tortuosas estradas. Nem sei o que deve mudar, aliás, nem sei se quero. Cansei de imaginar o improvável e vou movida pela linda utopia e a eternidade dos sonhos. Vou assim perenemente vivendo os gostosos desejos e tomando os didáticos tapas na cara.
Chegou a hora de...
Dói, mas renova.