domingo, junho 29, 2008

Hunft!

Hoje é domingo. Tive um final de semana com picos de animação e outros de depressão absoluta. Fui a show muito bom. Exceto por uns momentos de estrelismo, motivado pelos genes do pai, acredito eu, que Davi Moraes teve. O som é de extrema qualidade. Inegavelmente bom. Ando meio sem graça e inspiração.

sábado, março 08, 2008

Pagando pra tocar uma

Comum nas rádios, a prática imoral do jabá contribui para o declínio da MPB

– O que exatamente você quer, Luana?
– Tocar a música para divulgar o DJ - respondo naturalmente como se estivesse solicitando a um garçom uma cerveja gelada.
– Ah, isso é muito mais fácil, basta fechar um contrato e eu consigo pra você.
O diálogo acima foi travado com Marcelão, coordenador de programação e apresentador da Rádio Transamérica FM de Salvador, e foi resultado de uma tentativa simples: bastou uma única ida à rádio e algumas ligações para, pela considerável quantia de R$ 3,5 mil, a Transamérica inserir na sua programação a faixa musical “Sometimes”, do fictício DJ Shadow, duas vezes por dia, de segunda a sexta, durante um mês - não sabemos se após a publicação dessa matéria o nosso sucesso continuará tocando.
O que Marcelão fez não é exclusividade da Transamérica. Há muito a prática é comum na maioria esmagadora das emissoras de rádio e TV brasileiras e atende pelo nome de jabaculê, ou simplesmente jabá.


O jabá é o nome dado ao dinheiro que as gravadoras ou artistas independentes pagam às emissoras para que sua música toque nas rádios e TVs. De acordo com o radialista, pesquisador, compositor e professor da Escola de Música da Ufba, Tom Tavares, a prática, que ele considera execrável, passou a ganhar maior forma no Brasil a partir da segunda metade década de 60. “A prática foi crescendo a ponto de nos dias de hoje ser quase impossível um artista ser executado em algum lugar sem o pagamento”, conta.

A programação da Rádio Transamérica funciona da seguinte forma: de 9 às 11h e de 14 às 18h são músicas, grande parte paga, como o próprio funcionário do setor financeiro afirmou quando questionei qual música estava tocando no momento em que estava lá. “Não sei, essas músicas são todas pagas mesmo”, disse. A naturalidade da ação assusta. Basta ter dinheiro que a música toca na rádio.

Na Transamérica, a inocência e a inexperiência da reportagem nesta espécie de transação fizeram a solicitação ganhar um ar rebuscado quando, na verdade, tudo é muito simples. Basta chegar à emissora e falar: “Quero pagar para colocar uma música minha no ar”. Não importa se sua música é uma porcaria - o que não foi nosso caso. Aliás, segundo a diretora da rádio, Inês Almeida, há uma ressalva de honra: pagode não entra de jeito nenhum no playlist da emissora.
Inês, braços curtos e sorriso largo no rosto, tem motivos de sobra para comemorar os rendimentos pós-carnavalescos. Durante o período da folia momesca, a Transamérica fecha pacotes com grandes grupos de carnavalescos.


Então, várias produtoras que cuidam de artistas de peso garantem que as suas músicas toquem incessantemente na rádio. Inês contou ainda que, em uma dessas “levas” de dinheiro do carnaval o transportador da grana foi assaltado. “Levaram R$ 50 mil do dinheiro que havíamos ganhado com as bandas do carnaval”, conta com certo ar de indignação. No carnaval, bandas novas e pobres, com certeza, não tiveram espaço nesse mundo dos endinheirados que rege a rádio que tem como slogan “Só o que você quer ouvir”.

Ao encontrar com a diretora da rádio para fechar o negócio, logo na segunda frase do diálogo, ela já me adiantou que a rádio trabalhava mediante pagamento adiantado e à vista, mas alertou, didaticamente, que isso não poderia ser considerado como jabá. “Nós estamos divulgando seu produto para que ele passe a ser conhecido”.

E para o artista “passar a ser conhecido” basta ter bala na agulha e escolher quantas vezes a música vai martelar na mente dos ouvintes. Para uma inserção diária R$ 1.5 mil, duas vezes R$ 3.5mil, três vezes R$ 5 mil e quatro vezes R$ 6.5 mil e ninguém mais esquece a “melhor canção de todos os tempos da última semana”.

Concessão pública


A didática apresentada por Inês Almeida não deve ser tão naturalizada. As emissoras de rádio e TV são concessões públicas. Ou seja, para transmitir um programa as emissoras precisam de uma autorização do Estado. O artigo 21 da Constituição Federal confirma isso: “Compete à União (...) explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão (...) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens”. As emissoras de rádio recebem concessão por 10 anos e não prestam contas a ninguém - nem à população, nem ao Estado - daquilo que fazem. “Quando alguém recebe uma concessão pública ele aceita termos contratuais e para completar o poder constituído tem medo de enfrentar a mídia e vira essa bagunça no Brasil”, afirma Tom Tavares.

Segundo o advogado Rodrigo Moraes, especialista em direito autoral, o fato das rádios serem concessões públicas as obrigam a manter uma função social. “Apesar de ser uma empresa que tem como objetivo ganhar dinheiro, tem que existir a função social do veículo. Não se pode tratar a rádio como uma loja de departamentos onde quem paga mais leva”. No Brasil, ainda de acordo com Moraes, a situação se agrava porque o processo de concessão de emissoras de rádio e TV está intrinsecamente ligada aos políticos. “A forma como as concessões são feitas é terrível. Os donos dos meios de comunicação são, geralmente, igrejas e políticos que exercem mandato eletivo e no período de renovação da concessão estão em exercício”.

Um caso clássico jabazeiro aconteceu com o próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil, que hoje é um ferrenho opositor à prática. Na época que Gil era do casting da gravadora Philips, o principal executivo da empresa, o francês André Midani, pagou jabá para as emissoras de rádio tocar as músicas do baiano. Se isso foi um fator preponderante para o sucesso posterior do ministro não se pode afirmar, mas prova que a prática é antiga nas terras tupiniquins.

Agora a pergunta: será que a música brasileira não estaria num patamar de qualidade bem melhor se o gosto musical fosse ditado apenas pela opinião dos ouvintes e não pela cifras pagas às rádios? A resposta parece óbvia e leva à reflexão sobre quanta porcaria temos ouvido nos últimos anos e quanta coisa boa deixamos de escutar por causa do jabá e dos jabazeiros.
Ainda segundo Tom Tavares, a Lei Geral das Telecomunicações não cita nada diretamente sobre o jabá, mas fala a respeito da democratização dos meios de comunicação. “Os veículos de comunicação têm que divulgar um painel amplo e devem contemplar todas as tendências musicais, o que não acontece quando o jabá entra em ação”.


Ao me apresentar à pessoa responsável pelo setor financeiro da Transamérica FM, Inês foi logo demonstrando a intenção de manter um contrato longo com a “assessora do DJ”. É o business. Afinal, segundo Inês, basta fechar um contrato que qualquer um pode tocar quantas músicas quiser. O contrato jabazeiro prevê também um “brinde”. Quando um artista encaixa uma música na programação da rádio ele tem direito a gravar uma vinheta de apresentação anunciando o seu produto.

Segundo Tom Tavares, na Bahia praticamente todas as rádios aumentam sua renda com a cobrança de “mídia”. A ação, porque não dizer descarada, das emissoras de rádio baianas traz à reflexão um outro assunto: até que ponto as músicas de axé executadas até a exaustão no período pré–carnavalesco equivalem, de fato, ao gosto da população? De tão massificada, devido ao pagamento antecipado, as pessoas acabam gostando “naturalmente” da música.

Então, a população que crê na idoneidade dos meios de comunicação - pesquisa recente revelou que 64% dos brasileiros acreditam que a mídia é a instituição mais confiável - aceita determinada música como a “canção do carnaval de 2008” ou “a música mais pedida por todos os ouvintes”.
Insatisfeita com a facilidade encontrada na Transamérica, a reportagem procurou uma outra emissora. Dessa vez, de posse de um CD de axé music da também fictícia banda “Água de Cheiro” e a música “Volta”, fomos verificar a “disponibilidade” da Rádio Itapuã FM em executar a canção. Foi muito simples também.


Na Rádio Itapuã, a primeira rádio FM de Salvador, além do pagamento em dinheiro, o jabá pode ser cobrado em forma de brindes aos ouvintes. Na emissora, o contato foi feito com Tony Oliveira, responsável pelo setor de promoções e eventos da rádio. O preço do jabá na emissora é um pouco mais salgado. Para duas inserções diárias, durante um mês, o valor cobrado é R$ 4 mil. Porém, a música tocará todos os dias da semana. Existe também um pacote especial para os fins de semana. São duas execuções no sábado e no domingo, no período compreendido entre as sete da manhã e as sete da noite, por R$ 1,5 mil.

Se a grana estiver curta, a Itapuã oferece um serviço de permuta de acordo com a necessidade da rádio no momento. Tony exemplificou para a reportagem um caso de uma pessoa que produzia VTs, e desejava inserir a música. Pronto. Uniu-se o útil ao agradável. A rádio encomendou um VT promocional e a música passou a ser executada na emissora. Vale também uma troca de brindes. Se o “produtor da banda” desejar permutar a inserção musical por uma geladeira ou um fogão, por exemplo, também vale. Tudo para ficar ao gosto do freguês.

Lei Antijabá


Existe atualmente um Projeto de Lei em tramitação no Congresso Nacional - (PL) nº 1048/03 -, de autoria do deputado Fernando Ferro (PT-PE), que prevê a proibição da cobrança do jabá. O PL está na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. De acordo com o deputado, existe legislação de outros países sobre o assunto. “Essa é uma atitude antiética que mexe com a cultura do País e força a opinião pública a se comprometer com um determinado gosto musical”.

Caso seja aprovada, a nova lei deverá dificultar as execuções de músicas através da compra de espaço publicitário nos meios de comunicação. O texto do projeto prevê a detenção de um a dois anos para os responsáveis por emissoras de rádio e TV que aceitarem dinheiro ou qualquer outra vantagem de gravadora, artista, empresário ou promotor de eventos em troca de veiculação de música. Também estão previstas multas, suspensão ou cassação da concessão governamental.
Porém, na avaliação de Tom Tavares, essa lei não vai servir para nada. “Existe uma série de fatores para serem estudados. Para começar, é necessário se fazer cumprir a lei que determina as concessões de rádios e TVs e, a partir do momento que se cria uma lei para um determinado problema, existe um sinal de que está tudo errado, porque o jabá já deveria ser punido pelo Ministério das Comunicações”. A opinião é ratificada por Moraes, que acredita que a lei pode ser mais uma a ser descumprida. “Eu não tenho muita fé nesse projeto de lei. No Brasil, nem tudo pode se tornar crime, a discussão deve ser mesmo pela concessão”.

De acordo com o advogado, não existe nenhum dispositivo na lei que fale explicitamente sobre o assunto, mas alguns princípios da comunicação podem ser aplicados à prática. “Existe o direito à informação e à liberdade da expressão. A gravidade do jabá é que você acaba privilegiando quem tem dinheiro e a diversidade musical fica comprometida”.


O jabá, indiscutivelmente, se constitui com uma prática imoral, antiética e desrespeitosa com o ouvinte, que garante audiência para que essas empresas continuem operando em espectro público agindo com uma empresa privada que não deve satisfação a ninguém, e com os artistas, que vêem o mercado radiofônico se fechar como um funil para quem não tem grana para pagar.

Jabasta

Existe um movimento intitulado “Pelo fim do Jabá” ou JABÁsta, que possui um blog na Internet (movimentopelofimdojaba.blogspot.com) e uma comunidade no orkut com cerca de 3.500 membros. Mas a última postagem do blog data de maio de 2006, com um link de uma entrevista de B. Negão falando sobre o assunto. Porém, ao clicar no endereço, o internauta não vai acessar lugar algum, pois o link está desativado.


Nas postagens anteriores, a maioria dos assuntos debatidos na página se refere ao projeto de lei do deputado Fernando Ferro, algumas reuniões do movimento e opiniões de outros artistas sobre o assunto.

No site de relacionamentos tudo muito parado também. O tópico com maior movimento de opiniões é o que possui o título “Qual o artista mais jabazeiro dos últimos anos?” O assunto rende diversas opiniões. Entre os adeptos da prática exemplificados pelos participantes da comunidade estão: Ivete Sangalo, Wanessa Camargo, Felipe Dylon, Armandinho e até Roberto Carlos “e suas requentadas emoções”, como afirma um dos membros da JABÁsta. O resto dos tópicos se resume a spams de festas, elucubrações teóricas acerca da origem do termo jabá e o futuro da prática e mais alguns “manifestos”. Nada além. Pelo visto, a mídia do jabá é mesmo o rádio.


Com os gringos é diferente


Na legislação americana, desde os anos 60, o jabá ou, como eles dizem, o payola (derivada de payment – pagamento e victrola – o aparelho toca-discos) é considerado crime, mas, assim como no Brasil, a ilegalidade é difícil de detectar. Porém, a dificuldade de se monitorar a prática nos EUA não impediu que, recentemente, as multinacionais Warner Music e Sony BMG fossem obrigadas a pagar US$ 5 milhões e US$ 10 milhões, respectivamente, em multa pela prática, denunciada numa ação movida pelo Ministério Público de Nova York.

O procurador-geral do estado norte-americano, Eliot Spitzer, notificou as quatro grandes empresas multinacionais da música (por ordem de faturamento anual, Universal Music, Sony Music, Warner Music e EMI Group), ameaçando-as de processo judicial caso não concordassem em efetuar o pagamento de uma soma específica em dinheiro como forma de multa pelas irregularidades que haviam sido praticadas. As quatro empresas concordaram amigavelmente para não serem alvo de processos judiciais, que com certeza prejudicariam os seus negócios, mas até o momento somente a Sony/BMG e a Warner Music coçaram o bolso.

O acordo foi o primeiro do gênero no mundo e na história da indústria fonográfica. Após a criminalização da prática com a promulgação da Payola Law, as gravadoras, para fugir ao cerco das autoridades, criaram uma espécie de bypass, contratando profissionais divulgadores externos, independentes, que se incumbiam da tarefa de levar e “negociar” os produtos musicais nas emissoras de rádio em troca de benefícios financeiros e materiais. Mas aqui no Brasil a legislação não aborda o tema, o que permite a livre atuação. Os executivos da indústria nacional afirmam que não existe mais jabá no país, mas sim contratos lícitos de compra de espaço publicitário. Então tá.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Leve

Leve, como leve pluma muito leve, leve pousa
muito leve leve pousa
Na simples e suave coisa, suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma
Sombra, silêncio ou espuma nuvem azul que arrefece
Simples e suave coisa suave coisa nenhuma, que me amadurece
Leve, como leve pluma muito leve, leve
pousa muito leve leve pousa

E eu aqui sem saber que a vida é uma leveza só.
Sem sentir a suavidade das coisas

segunda-feira, setembro 03, 2007

Segredo

É como se houvesse um tudo

Tudo que só os versos podem contar

No meio dessas palavras, soltas e tolas, são ditas o que não foi revelado

Apenas sonhado. Somente sonhado. Muito sonhado

Acompanhado pela retina seca de tanto olhar fixo pro teto

Planejado junto à solidão das milhares de vozes que precedem o adormecer

Apenas desejos. Somente desejos. Muitos desejos

Pouco de concreto. O excesso dos excessos. Aquilo que se permite ser revelado.

Apenas revelado. Somente revelado. Nada revelado.

sexta-feira, agosto 03, 2007

É...

Insuportavelmente feliz!
Simples assim.

terça-feira, julho 31, 2007

Olhos

Os olhos dele me fascinam.
Possuem o brilho mais sincero do planeta.
Os olhos dele me prendem.
Variam do mistério à revelação absoluta.
Os olhos dele me encantam.
Como eu pensei não sentir novamente.
Os olhos dele me contemplam.
Nunca me achei capaz de ser hipnotizante.
De repente houve luz e reacenderam-se as esperanças.
Agora sou eu, ele, os olhos e a vida para seguir.
E o caminho é: pra frente, sem medo e agora.

sábado, julho 28, 2007

Partida

E ele se foi...
como o sol que iluminou todo o dia;
como a lua que acalentou casais apaixonados a se amar sob a sua incandescência;
se foi como a brisa que refrescou o corpo suado,
após um encontro inesperado, tramado pelo danado do destino;
se foi, mas deixou uma alma a regozijar de tanta alegria que não cabe no peito e transborda para os lábios a se abrir num sorriso flutuante que parece nunca chegar ao fim