segunda-feira, julho 03, 2006

Insônia

Uma noite de insônia é um dos piores problemas pra quem está sozinho. Sentir as horas passando e os olhos permanecerem secos é uma verdadeira tortura. Quanto mais se procura, mais o sono foge. O jeito então é pensar e repensar em uma série de coisas, que variam desde problemas financeiros até desilusões amorosas. Em uma dessas noites, eis que fui acometida desse mal. Não conseguia dormir e nada que eu fizesse parecia querer mudar isso.
Dentro do meu quarto, sozinha, procurava todas as formas para que o sono chegasse logo. Era insuportável não conseguir dormir e estava odiando todos os pensamentos que estava tendo. Não dá para se sentir feliz ou ter pensamentos alegres quando você imagina que todas as pessoas que estão no mesmo fuso horário dormem, e você reflete. E se somado a todos esses fatores no outro dia ainda enfrentará uma jornada de trabalho, o desespero aumenta. Como o sono não chegava o jeito era esperar. No meio dos meus pensamentos inconvenientes, nostálgicos e deprimentes lembrei da minha infância e principalmente dos meus pais. Tive uma infância feliz, tranqüila e equilibrada. Fiz exatamente tudo que uma criança deve fazer. Brinquei, apanhei, briguei, corri e me machuquei. E o meu conforto era voltar pra casa e encontrar a estabilidade do meu lar. O chocolate quentinho, o pão torradinho e meus pais lá, juntinhos.
Os anos se passaram e as coisas mudaram. Não tinha mais meu pão torradinho e muito menos meus pais juntos, e nem eu próximo a nenhum dos dois. Lembrei-me de quando me sentia assim, sem sono, e corria para o quarto de minha mãe e lá, mesmo depois de muitas reclamações, ela cedia um cantinho na cama e conversava comigo até que eu conseguisse adormecer.
Virava pra um lado e pro outro, os olhos cada vez mais acesos, lembrando com muita saudade desse tempo ao mesmo tempo que um sentimento de culpa surgia. Na medida do possível sei que sou uma boa filha, mas assim mesmo parecia que não fazia o suficiente. Sempre exijo muita atenção de todas as pessoas ao meu redor, mas não sei se correspondo à altura que todos merecem.
As horas passavam e não consegui sentir o mínimo de cansaço, ao contrário, sentia-me extremamente ativa. Um céu estrelado com uma lua linda e cheia completava o clima nostálgico da situação. Resolvi dar o tiro de misericórdia: já que não conseguia dormir, ia contemplar o espetáculo que a natureza me proporcionava. Olhei pro celular e nenhuma ligação perdida e muito menos uma mensagem. Na verdade, não esperava que fosse diferente, mas não sei porque acreditava que poderia encontrar algo. Mesmo assim levei-o pra varanda na esperança que ele pudesse tocar e assim ouvir algo ou alguém que me fizesse sentir melhor.
A respiração forte, coração acelerado e só a luz da lua e das estrelas me iluminando. Definitivamente já estava cansada daquela falta de sono, e resolvi voltar pra cama e pôr fim naquela angústia mental. Mas como brigar com toda aquela agitação corporal? Não estava relaxada e isso refletia nitidamente no lençol da minha cama, que estava absolutamente espalhado.
Já havia contado carneiros, vacas e bezerros até o limite da minha paciência. Ver todos aqueles bichinhos pulando de uma suposta cerca estava me irritando mais do que tranqüilizando. Deitada na cama e cansada de raciocinar só desejava “apagar” e desaparecer com todos aqueles pensamentos infames.
Aos poucos começava a sentir o corpo ficar mais leve e a mente relaxada. Sentia que estava dormindo e um misto de alívio e desespero tomava conta de mim. Desespero, porque mesmo que não quisesse ficar pensando em tudo, queria permanecer imaginando, sonhando... Talvez no campo da imaginação as coisas se tornem mais fáceis e todos os nossos desejos tornem-se realidade mais instantaneamente.
O sol começava a nascer e sentia que dentro de alguns minutos iria adormecer. Não sei qual foi o último pensamento e muito menos o anseio. Simplesmente adormeci e no outro dia segui com meus afazeres e não lembrava nada do que havia pensando na noite anterior. Apenas uma dor de cabeça e um mau humor comum a uma noite mal dormida.

1 Comments:

At 6:09 AM, Anonymous Anônimo said...

Gostei do texto! Vamos em frente!

 

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